12 de out. de 2008

Inovar.... não tem nada de novo!

O mundo é complexo, não precisa dizer.
Pois bem... os economistas tentam, faz tempo, entender e explicar como funciona a economia. Ainda não conseguiram, como também é fácil de compreender lendo as manchetes de jornais recentes. Afinal de contas, a crise (crise? que crise?) está aí para não deixar dúvidas. Mais uma vez, a bolha se repete. Ou seja, não aprendemos, coletivamente, como funciona a economia.
Entretanto, temos boas pistas sobre como funcionam a economia e o tal de capitalismo. Mais do que os modelos macroeconômicos, no geral simplificações grosseiras da realidade, muito grosseiras, que pouco explicam, as contribuições (i) da sociologia, (ii) das ciências da computação - e dos estudos empíricos com micro dados e (iii) dos estudos cognitivos são alvissareiros para o futuro da Economia.
Há muito (quase um século) sabemos, contudo, que a firma não é uma mera função de conversão de fatores de produção em produtos. Sabemos também, como ensinou Schumpeter (leiam a resenha do Rafael sobre a biografia desse escrita por McCraw), que o 'capitalismo se reinventa', sempre. Daí, a importância da tal 'inovação'. Mas vamos lá... não há nada de novo nisso! Não há nada de novo em saber que o capitalismo se reinvente, o livro de Schumpeter é de 1942. Muito, menos, no fenômeno da 'inovação' em si; foi a partir da análise da história econômica que Schumpeter chegou a esse insight. Ou seja... sempre foi assim!
Será?
Inovar é fazer algo novo, que tenha valor econômico. Simples como tal! Um novo produto, uma nova forma de fazer negócios, um novo processo etc. Ou seja, diz respeito a 'fazer coisas que não eram feitas antes' ou 'fazer as coisas de uma forma como não eram feitas antes'.
Criar e destruir estão na essência do capitalismo. Destruir não fisicamente, mas economicamente. Ou seja, tornar uma solução (produto, processo, idéia, empresa...) obsoleta por sua incapacidade de oferecer desempenho igual ou superior a uma nova 'solução'. A questão chave da inovação, pois, é o seu caráter dinâmico. Ou seja, inovação é algo que acontece no tempo. Alguém cria algo novo, que vira padrão/comum e, em algum momento no futuro, poderá ser suplantado por outra, de desempenho superior (para quem?).
Mas por que, então, tanto escutamos sobre a tal da inovação? O que há de novo nisso?
Existem três possibilidades de resposta, não excludentes. A primeira diz respeito ao estágio atual do capitalismo. A segunda, a nossa capacidade de compreender os fenômenos econômicos. A terceira, ao capitalismo em si.
E vamos às idéias/elocubrações....

[1] O estágio atual do capitalismo
É fato: a economia é cada vez mais complexa. A variedade de produtos é cada vez maior e existem novas funções a serem realizadas. Assim, aumenta a especialização do trabalho e se acentua a sua divisão social, surgem novos atores, tipos de empresas e instituições (de defesa da concorrência, regulação, promoção comercial etc.), cresce a importância das 'atividades imateriais' (design, gestão de marcas e cadeias de distribuição, projeto de modelos de negócios etc.) para as empresas, reconfiguram-se as relações de dependência entre diferentes tipos de empresas e países, novas competências e perfis profissionais se fazem necessários etc.
Neste cenário, a inovação é chave. Nos mercados maduros, para que seja possível desenvolver produtos adaptados para clientes e segmentos específicos de mercado. Este é 'o caminho' para que as empresas possam crescer vendas: diferenciação. Nos mercados emergentes, a necessidade de inovação surge da necessidade de desenvolver produtos adequados a esses mercados (produtos diferenciados, adaptados a essas necessidades), que paresentam características peculiares.

[2] A compreensão dos fenômenos econômicos
Hoje, sabemos mais sobre como funciona a economia do que no passado. Uma avanço importante na compreensão do funcionamento economia é possível a partir das pesquisas empíricas com uso de microdados de empresas.
Trata-se de campo novo. Primeiro, porque o trabalho com grandes massas de dados exige elevado poder computacional, de armazenagem e processamento de dados. Segundo, porque os construtos, estratégias e métodos de pesquisa ainda estão em desenvolvimento.
No Brasil, temos avanços importantes. Pesquisas com microdados do IPEA, representando 97,5% da transformação industrial brasileira, nos permitem afirmar com segurança: as empresas que inovam e diferenciam produtos faturam mais, são mais produtivas, exportam mais, crescem mais, geram mais e melhores empregos.

[3] O capitalismo em si
Ora... promover a inovação faz parte dos negócios! Há um mercado para a inovação. São muitas as oportunidades de negócios associadas à inovação: consultoria, jornalismo especializado, realização de eventos, treinamento, networking, pesquisa, desenvolvimento de método, promoção e divulgação.
A cada nova necessidade do mundo dos negócios, reconfigura-se um novo ecosistema de negócios associado. Alguém irá (inovar?) e aproveitar economicamente as novas oportunidades que surgem.

Como síntese, vale notar que surgem no cenário organizações (empresas, ONGs) que se especializam em fazer inovação ou gerir a inovação. Ou seja, se há necessidade de inovar e inovação tem sentido econômico, compreendemos isso e sabemos que a gestão da inovação se tornou algo complexo em si, aparecem organizações cujo 'negócio' é a inovação!

E assim o capitalismo vai...

Boas inovações!

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